11 de maio de 2014

Pelas mães martirizadas... roguemos!







Salve as Marias, mães que devem ser lembradas
Onde as dores e martírios estiveram convosco nas mãos de seus algozes,
Claudia, Fabiana, Sandra Lúcia, Jaci. Marias, mulheres, mães...
Benditos sejam os gritos na defesa dos teus nomes
Benditos sejam os frutos na luta contra os impunes

Santas Claudias, arrastadas e mortas por quem deveriam defende-las
Roguemos por seus filhos, órfãos de um sistema falido, sem carinho, sem amor de mãe.
Santas Fabianas, donas de casa subjugadas, espancadas pela fúria de uma sociedade
Que se encontra perdida, apedrejando a vida de filhos, órfãos de mãe
Santas Sandras, brutalmente assassinadas pelos companheiros
Vítima de uma profunda confusão: amor e obsessão
Santas Jacis, mortas pelos próprios filhos
Escravos da dependência e da violência

Lembremos delas com todo o carinho
Mártires, de um mundo descontrolado
Mães que geraram no ventre homens e mulheres
Desejosas de uma sociedade mais humana
Que seus martírios sejam lembrados

Agora e sempre! 

5 de maio de 2014

BARBÁRIE - Essa não é uma obra de ficção, e qualquer semelhança não é mera coincidência!



Na idade Média uma série de atos punitivos de cunho religioso eram realizados  com perseguições motivadas pela crença de um povo que entendia ser necessário punir que supostamente praticava rituais exotéricos. Estima-se que foram de 40 a 100 mil execuções por ato de bruxaria em quatro séculos.  Nesse cenário de horror, as vítimas eram mulheres, considerando um período de conceitos arcaicos, dominado ideologicamente pela Igreja Católica, prevalecendo uma visão teocrática, onde o ser humano não tinha valor nenhum,  principalmente a mulher.  

A violência era extrema e tudo servia para incriminar uma mulher de bruxaria, participar de revoltas, utilizar de curas alternativas contrariando o poder médico, a sensualidade... Até o erotismo da mulher foi considerado aspecto do mal na sociedade. Muitas mulheres foram conduzidas à fogueira por despertarem interesse sexual, acusadas de desvirtuarem os homens com atos libidinosos.  E tudo isso acontecia em praça pública, para que todos pudessem ver esse espetáculo de horror, atraindo a atenção das pessoas.



Anna Pappenheimer tinha 59 anos, filha de coveiro, casada por 37 anos com um limpador de fossas, teve 7 filhos, dos quais três sobreviveram. Essa família foi denunciada como bruxos por um criminoso condenado. Foram presos, interrogados, torturados com violência extrema e para diminuir o sofrimento admitiram o pacto com o diabo. Anna confessou que havia voado em um pedaço de madeira para ir de encontro ao diabo, que havia feito sexo com seu amante demoníaco, matando crianças para fazer um unguento para passar em seus corpos. Condenados por feitiçaria, os adultos da família foram condenados à morte. Anna teve a pior punição: ela foi despida e os seios decepados e colocados à força na boca de Anna e dos dois filhos, enquanto sofria com uma hemorragia ininterrupta. Alemanha, século XVI.(Jornal do Brasil, 22/03/2014)

E como a população assistia a isso passivamente? Como se deixou influenciar? O povo acreditava firmemente que estava fazendo a coisa certa, porque a Igreja determinava o pensamento daquele período. Motivado pelo medo os atos de violência e crueldade justificavam o elemento causador de toda essa barbárie.


Fabiana Maria de Jesus, 33 anos, morta no Guarujá, litoral paulista, por causa de um boato espalhado na internet, de que havia uma sequestradora de crianças na região.  Fabiana foi amarrada, espancada e arrastada por um grupo de moradores  do bairro Morrinhos, do Guarujá.  Era mãe de dois filhos. São Paulo, 2014. (Folha de São Paulo, 05/05/14)

Hoje estamos diante de uma nova barbárie cinco séculos depois, quando  vemos estampada em manchetes de jornais, nas redes sociais, nos canais de vídeo,  uma série de práticas denominadas de justiça, espalhando uma crueldade sem limites, instigadas por uma  mídia que ideologicamente teima em implantar um pensamento irracional  numa população desacreditada e com medo. Medo de que? Da violência, da impunidade, agem em nome da sociedade, que assiste passivamente a esse tipo de punição exposta pela mídia. Hoje a praça pública foi substituída pela câmera de vídeo, pelos sites e redes sociais.

Josimar Dias de Sena, 18 anos, foi retirado à força de sua casa por homens desconhecidos no dia 17 de abril. De cuecas, amarrado com pedaços de lençol a um poste de energia elétrica, recebeu golpes de fio de cobre. Durante as agressões, suspeito de assalto, foi obrigado a gritar: Nunca mais vou roubar no morro. Os moradores filmaram o espancamento e postaram em rede social.

A ação de justiceiros que  se colocam com poder de polícia nos remete ao período da caça às bruxas, não só pelo modo de operar como pelo fato de pensar que está fazendo o certo, punindo aquele passível de punição, sem o direito de se defender, baseado em denúncias e supostos crimes cometidos.
Na noite do dia 31, um adolescente de 15 anos foi agredido a pauladas e acorrentado nu pelo pescoço a um poste no Bairro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro. Testemunhas afirmaram que o garoto foi agredido por cerca de 30 homens que estavam de moto, porque supostamente teria roubado peças de bicicletas. As fotos e o vídeo foram postados em rede social, alguns aplaudiam e outros repudiavam a essa cena de horror. Canais televisivos fizeram desse ato uma subida nos índices de audiência.

O que percebemos até aqui é que existe um temor da população que fica exposta a qualquer tipo de criminalidade, que não acredita na justiça, que não se sente protegida e pode fazer justiça com as próprias mãos,  começa a agir por conta própria, instigadas por grupos que disseminam a violência e apoiam atitudes como estas. Uma ideologia dominada por uma mídia sensacionalista e manipuladora que convence o agressor de que está correto quando toma em suas mãos a decisão de quem pode viver e quem deve morrer, numa perspectiva punitiva.

Nessa  nova versão de caça à bruxas, a vítimas são os pobres, os pretos e as mulheres. Por que será?
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