É fato que a internet nos possibilita uma gama muito maior
de informações com uma rapidez nunca antes imaginada. É fato, também, que esse
espaço virtual é o espaço mais democrático que existe até agora, onde postamos
o que é de nosso interesse, acessamos o que quisermos. E uma destas postagens
me chamou a atenção esta semana pelo teor de crítica em relação ao dia da
Consciência Negra, a qual classifico agora de filosofia “rasa”, sem
fundamentação teórica, sem base histórica, de um pensamento que exprime a
invisibilidade de questões não só raciais, como sociais, que o Brasil tentou
esconder em todo o processo histórico.
O problema que permanece aqui é a ignorância (no restrito
sentido da falta de conhecimento). O que conhecemos de realidades sociais e
econômicas acerca da população negra? Conhecemos os dados de mortalidade
infantil e materna juntamente com seus atenuantes na população negra? Sabemos
dos dados da violência no Brasil onde a população negra é a mais atingida? Conhecemos
o afunilamento do acesso ao ensino superior na população negra? A desproporção
em relação à formação educacional? Nos informamos dos últimos dados em relação
ao percentual de defasagem salarial entre negros e brancos no Brasil?
Podemos ajudar nesse sentido, já que a questão aqui é a
formação de uma consciência humana: no último dia 13 foi divulgado o resultado
de pesquisa feita pelo Dieese com dados levantados entre os anos de 2011 e 2012
e mostra um Brasil desigual e discriminador. A pesquisa denominada “Os negros
no mercado de trabalho” mostra as disparidades de oportunidades e uma defasagem
salarial grande. Dos negros trabalhadores, aproximadamente 27% não concluíram o
Ensino Fundamental, onde o percentual é de 17,8% dos não negros; a mesma
pesquisa mostra que os negros saem perdendo na batalha por melhores salários, e
de acordo com o Dieese um trabalhador negro com nível superior é, em média R$
17,39, por hora, enquanto um não negro chega a receber R$29,03, por hora.
Se elencarmos as situações que incidem historicamente sobre a
população negra num país que concebeu como mão-de-obra barata, justificada pela
condição de inferioridade racial e intelectual, uma população que só servia
para o trabalho compulsório, esta postagem não teria fim. Um grupo social relegado à exclusão e
invisibilidade pelo Estado Brasileiro, por uma sociedade hipócrita e
dissimulada que sempre negou a negritude. A tão sonhada liberdade que nunca aconteceu
de fato e de direito, a busca pela equidade em todas as circunstâncias, vem
levantando bandeiras de luta por todo o país.
O dia 20 de novembro é dia de luta contra atitudes, práticas
preconceituosas e discriminatórias. É dia da Consciência Negra sim, porque
somos um país de pretos e a maior parte desses pretos está fora das
universidades, do mercado de trabalho, da assistência do Estado.
Não nada adianta filosofar sobre uma consciência humana,
sentar à frente de uma televisão, assistir os noticiários que expõe essas desigualdades,
e esperar que o Estado ou os outros resolvam essa questão. É hora de parar com
a hipocrisia de uma democracia racial que não existe na prática, e fica só no
discurso demagógico. É hora de conhecer a trajetória de uma população vítima de
uma falsa abolição com todas as suas lutas até a conquista de
direitos.
O dia 20 de novembro é a data que marca na sua agenda a lembrança destas lutas!
0 comentários:
Postar um comentário