Esta semana, o escritor Graciliano Ramos faria 120 anos. Alagoano,
nunca frequentou uma faculdade, foi revisor de dois jornais do Rio de Janeiro -
“Correio da manhã” e “A Tarde”- e foi
prefeito em 1927. Ativista político, chegou a ser preso em 1936 sob a acusação
de comunismo, e na prisão escreveu “Memórias do Cárcere” sobre a dura realidade
brasileira. Realidade essa que fez parte de toda a inspiração de Graciliano na
sua epopeia literária: fez parte do grupo de romancistas da década de 1930
caracterizada pela dureza na linguagem, pela visão crítica da sociedade.
Vidas Secas, publicada em 1938, foi a obra lida, discutida
em sua temporalidade, no seu contexto histórico-social, em 2006 num projeto
didático com as turmas do 2º ano, da então Escola Estadual de Itaparica, quatro
anos antes da Referência. Injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca
nos remete uma realidade não muito distante da nossa. Os personagens pareciam
com alguém conhecido, a situação de pobreza e a busca por melhores condições de
vida não estavam, naquele momento, distantes do cotidiano dos nossos estudantes.
Imediatamente nos identificávamos com Fabiano. Em cada família, em cada membro
das comunidades existia um Fabiano.
“ A mudança” estava presente na realidade de cada família,
pois contávamos quantas pessoas tinham deixado seus filhos, esposas, namoradas
aqui no sertão e viajado para o sul e sudeste do país em busca de melhores
condições de vida. Como foi prazeroso identificar numa obra da nossa literatura
tanta coisa de cada um que estava naquela sala de aula, dessa escola. O projeto
nasceu dessa forma: se a nossa região tivesse condições de geração de trabalho
e renda, as mudanças seriam mais raras. Os “Fabianos” permaneceriam aqui, seria
um novo olhar, uma nova perspectiva sobre as mazelas sociais que assolam boa
parte da população brasileira.
“Para Além de Vidas Secas” foi um projeto de esperança, de
transformação de uma realidade, onde conseguimos encontrar alternativas de
sobrevivência neste sertão árido, mas nosso. Conhecemos, visitamos e
conversamos com o primeiro grupo de associação dos pescadores que trabalhavam
no projeto de criação de tilápia. Boa parte destes pescadores, jovens, desistiu
de migrar par ao sul do país em busca de subemprego, e se conservava em sua
terra porque dali podia tirar seu sustento; outros jovens tinham retornado de
outras regiões para onde teriam viajado em busca de emprego.
“Para Além de Vidas Secas” foi o espaço que construímos para
conversar sobre as expectativas, perspectivas de futuro, foi a primeira
experiência na pedagogia de projetos que tive com estudantes do ensino médio, e
posso considerar que foi a mais significativa. Então, quero agradecer a
Graciliano Ramos, por nos deixar fazer parte da construção destes 120 anos.
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