4 de novembro de 2012

A África está em nós, e sem negros não há Pernambuco!




Padre Antonio Vieira, em 1648, já dizia que “sem negros não há Pernambuco, e sem Angola não há negros”, o que nos remete a um questionamento sobre o conhecimento destas origens. O Brasil é o país que por mais tempo e em maior quantidade recebeu escravos vindos da África. Como colônia de Portugal fez parte do processo de escravização de negros africanos, prática já adotada nas colônias portuguesas implantadas na África.
A partir do século XV, Portugal se lança nas viagens marítimas comerciais para atender a uma política mercantilista baseada na exploração dos recursos naturais de terras “oficialmente” portuguesas, mediante o pacto colonial estabelecido durante o povoamento dessas terras. Algumas regiões da África, assim como no Brasil, fizeram parte da política colonialista implementada pelo governo português, facilitando assim o envio de negros escravos para o Brasil a partir do século XVI.
Durante o tráfico negreiro, vieram escravos de várias regiões da África, mas, segundo o  historiador especialista em História da África Philip Curtin, foi da Angola o maior número de escravos que abasteceu principalmente as capitanias do Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão e Pará, entre os séculos XVII e XIX. Maurício de Nassau, com o interesse em abastecer o mercado pernambucano, consegue traçar uma rota entre o porto pernambucano e o maior mercado atlântico de cativos: Angola. Maurício de Nassau, com o interesse em abastecer o mercado pernambucano, consegue traçar uma rota entre o porto pernambucano e o maior mercado atlântico de cativos: Angola.
É interessante e pouca gente sabe, que no século XVII, o Brasil participou da tomada de Angola, quando foi invadida e ocupada pelos holandeses, partiu uma expedição saindo do Rio de Janeiro para ajudar Portugal recuperar a colônia africana. Esta expedição era composta, principalmente, de indígenas, africanos e seus descendentes. O resultado foi um grande número de brasileiros que ficaram por lá, estabeleceram residência. No século XIX, cidades como Luanda foram consideradas extensões do Brasil.
Nenhuma região manteve relações com Pernambuco do que o reino de Angola, situada quase em frente a Pernambuco, do outro lado do Atlântico, e que não foram só comercias, mas também históricas e culturais. André Vidal de Negreiros, herói da nossa guerra contra os holandeses, foi governador de Luanda. Eusébio de Queiroz, político influente e autor de legislação contra a escravidão foi um angolano que, a caminho das cortes de Lisboa, fez escala no Brasil e aqui permaneceu. Após a independência, a autonomia do Brasil foi o ideal de emancipação de Angola.
Pernambuco e Angola começam a estar ligados a partir do século XVI. No século XIX portugueses de Pernambuco emigraram daqui para fundar a colônia de Moçâmedes. Ainda entre os séculos XVIII e XIX as ligações de Pernambuco e Angola foram constantes sobretudo como resultado do tráfico de escravos e abastecimento de secos e molhados que era feito de Recife para Luanda. A emigração de portugueses de Pernambuco para Angola foi incentivado pelo governo português, como prova a publicação de um edital no “Diário de Pernambuco” no ano de 1849: passagem e sustento à custa do Estado, inclusive às famílias; transporte para móveis e objetos pessoais; “instrumentos artísticos ou agrícolas de quaisquer sementes”; terrenos na colônia a ser fundada e uma mensalidade durante os 6 primeiros meses após a chega ali.
Considerando estas relações, claramente nos identificamos com Angola em diversos aspectos: a identidade cultural é muito grande, a troca cultural é muito maior do que imaginamos, nossos negros e índios hoje têm traços culturais e físicos produtos desta relação. O sistema linguístico de Angola e Brasil são muito próximos, hoje falamos bantu sem saber. Não é interessante?
Mas o que conhecemos de Angola? Como se estabelecem as relações do Brasil com Angola hoje? Qual o sentimento de Pernambuco em relação a Angola? Por estas e outras questões, faço um convite: vamos conhecer um pouco mais dessa história?



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