21 de novembro de 2012

A era dos RETROCESSOS?... Sobre o artigo publicado na Folha de São Paulo


Quando li este artigo, automaticamente fui lançada no túnel do tempo e me vi, literalmente, na minha turma de 5ª série no início dos anos 80. A aula era de Educação Moral e Cívica, e eu sentada na terceira fileira de carteiras escolar, respondendo o exercício escrito sobre virtudes e vícios. Não esqueço nunca desse tempo, onde os conceitos de moralidade e civismo se relacionavam à uma ordem e progresso imposta pela Ditadura militar. Onde e em que momento a ideia de civismo poderia passar pela luta por direitos políticos? Para aquela proposta de educação, lutar, reivindicar seria sinônimo de desordem. E a ordem era severa. Nós que estávamos distantes dos movimentos, das prisões, das informações, que nem sonhávamos que pessoas estavam lutando por direitos políticos e formando movimentos sociais, sentíamos de forma diferenciada, é claro, a crueldade de um governo de ditadura.

Restaurar a democracia foi para o povo brasileiro se libertar da opressão, da prisão, da tortura, do exílio e foi, principalmente  o grito de liberdade de expressão, de opinião religiosa ou política, de defender seu ponto de vista. Foi aí, que saí da terceira fileira, aquele lugar na sala de aula quase invisível, porque tinha medo, e pude soltar a voz, me fazendo ouvida.

Hoje, lendo esse artigo, me assustei com os rumos que o Brasil tá tomando. O que é isso agora? Nossa juventude não conhece nosso passado político? Não discute democracia? E como nos posicionamos como cidadãos? Para que entendam minha indignação, transcrevo aqui, trechos do artigo de Hélio Schwartsman, filósofo e colunista da Folha de São Paulo:

"Um grupo tenta refundar a ARENA, o partido que deu sustentação à Ditadura, e o Senado aprova Projeto de Lei que obriga escolas de Ensino Fundamental a ministrarem a disciplina Cidadania Moral e Ética - um novo nome para a velha Moral e Cívica dos militares. Parem o Brasil que eu quero descer.
Embora a primeira iniciativa pareça mais grotesca, é a segunda que me preocupa. No primeiro caso, estamos diante de um bando de jovens que, provavelmente devido à ausência de boas aulas de História, não entendeu que golpes de Estado são um péssimo jeito de solucionar conflitos políticos. De resto, as chances de a coisa se prosperar são diminutas.
No segundo, o que temos é uma das Casas do Legislativo, sem reflexão e contra o parecer das autoridades educacionais aderindo a uma palavra de ordem que poderá fazer mal ao já capenga ensino brasileiro.
É incrível que os Senadores não tenham compreendido que assistindo aulas de ética não torna ninguém ético. Seres humanos são bons em aprender e assimilar os valores do grupo que estão inseridos. Ninguém precisa ouvir de um professor que o assassinato é ilegal para descobrir que é errado matar uma pessoa. O código moral não chega a ser item de fábrica do homem, mas a capacidade pra perceber  as necessidades do grupo e a propensão para cooperar, é."

Ao meu ver, nosso legislativo está perdendo tempo com medidas paliativas, numa busca desenfreada em conter atos corruptíveis que assolam toda a esfera pública. Investir em educação não é criar disciplinas que terão como objetivo principal ensinar o que é bom, o que é ruim, o que pode pegar, ou não pode pegar. Esses valores são adquiridos, e a escola tem por missão transmití-los a partir de atitudes, posturas. Priorizar Educação é valorizar o profissional, é estruturar as escolas, torná-las acessíveis a todos. É democratizar o ensino, qualificar o estudante. A ética começa por aí...
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2 comentários:

  1. Eles 'pensam' que com essas atitudes vão melhorar a educação Brasileira! Como aqui mesmo fala: não é colocando este tipo de disciplina que se educa alguém, mas sim investindo nas escolas e valorizando os profissionais, porque é a partir deles que a ética, o respeito e a valorização são passadas para os alunos. Isso que estão fazendo é só mais uma ação momentânea e fraca para que a população pense que eles estão melhorando o ensino.

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  2. Verdade Alan, quais sãos as prioridades dos nossos parlamentares, conceituar ética ou vivenciá-la através de políticas públicas que valorizem os professores, sem atos de corrupção e respeito à liberdade de opinião.

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