POVOS INDÍGENAS NO NORDESTE: CONTRIBUIÇÃO A REFLEXÃO
HISTÓRICA SOBRE O PROCESSO DE EMERGÊNCIA ÉTNICA
Edson Silva
Durante muito tempo, nos estudos sobre a História do Brasil, além das referências ao índio, apenas nos primeiros anos da colonização, predominou a visão sobre os povos nativos como vitimados pelos inúmeros massacres, extermínios e genocídios provocados pela invasão dos portugueses a partir de 1500, e que os poucos sobreviventes, estavam condenados ao desaparecimento engolidos pelo progresso, através da “aculturação”, integrando–se à nossa sociedade. Em geral, essas idéias que permanecem sendo ensinadas na maioria das escolas e mesmo nas universidades, ainda aparecem em muitos manuais didáticos, principalmente nos livros de História do Brasil, são também veiculadas pela mídia e expressadas pelo senso comum.
[...] Esses estudos buscaram compreender como os diversos povos em diferentes contextos situacionais, elaboraram diferentes estratégias que possibilitaram a sobrevivência nesses cinco séculos de colonização. Nesse sentido, foi ampliada a concepção do próprio conceito de resistência, até então vigente, enquanto confronto, conflitos bélicos, guerras com fins trágicos e a morte de milhares de indígenas, para uma concepção mais ampla de relações culturais diferenciadas em um contexto de dominação e violências culturais: a resistência cultural do cotidiano, através de gestos, práticas, atitudes que quebraram uma suposta totalidade, hegemonia da dominação colonial.
Uma vez questionadas as visões a respeito dos indígenas como “povos vencidos” e as idéias do “genocídio” e do “etnocídio”, enquanto total destruição física e cultural, foram estudadas as diferentes estratégias utilizadas pelos povos nativos em uma permanente resistência ao colonialismo. As simulações, as acomodações, os acordos, as alianças. Ou seja, as apropriações simbólicas que as culturas indígenas fizeram da cultura colonial, reformulando-a, adaptando-a, refazendo-a, influenciando-a, reinventando-a, no que é por muitos autores denominado como religiosidade popular, sincretismo, hibridismo cultural, etc., que permeiam os “500 anos”.
As pesquisas revelaram que mesmo naqueles contextos de diversas violências explícitas, os povos indígenas simularam–se derrotados e sabotaram a dominação colonial, estabelecendo uma “resistência invisível”, através da persistência de práticas religiosas ancestrais, com simulações de adesão ao cristianismo, práticas estas consideradas como idolatrias pelos missionários, deixando-os bastante irritados ao perceberem os desvios em seus trabalhos catequéticos.
Artigo completo disponível em http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/
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